Professores, hoje trago uma obra para trabalhar e compreender os anos finais da ditadura militar, que ocorreu entre os anos de 1964 a 1985, no Brasil. O filme chama-se ''Democracia em Preto em Branco'', disponível na plataforma de streaming Tamanduá.edu.
A plataforma oferece suporte pedagógico com atividades pedagógicas, avaliação e teste de conhecimentos acompanhado de timecode, permitindo que o aluno encontre as respostas durante a exibição da obra ou ao final, conforme critério estabelecido previamente pelo professor. O plano de aula está fundamentado nas competências e habilidades da BNCC.
Sabemos que a história do Brasil foi marcada por distintos golpes de Estado. A maioria foi realizada por militares. O último golpe civil-militar teve início em 31 de março de 1964, resultando no afastamento do Presidente da República, João Goulart, quando o poder foi tomado pelo Marechal Castelo Branco e terminou com o governo do general João Batista Figueiredo. Os militares na época justificaram o golpe, sob a alegação de que havia uma ameaça comunista no país. Eles foram responsáveis por causar muitos danos na economia, na política, na ideologia e na sociedade como um todo.
As perdas na educação e nas artes foram irreparáveis. Centenas de obras foram censuradas: livros, filmes, peças de teatro, programas de rádio, revistas e letras de música.
As escolas públicas foram sucateadas, os investimentos em educação foram reduzidos; os professores tiveram seus salários corroídos e sua formação, desprezada. A queda na qualidade do ensino, combinada com a abertura do país ao ensino privado, fortaleceu a migração dos filhos das elites para colégios particulares, fortalecendo as desigualdades sociais e educacionais.
A censura à imprensa assumiu múltiplas formas, como a lei da imprensa de 1967 e a censura prévia, em 1970, que suprimiu a circulação de informações para proteger interesses do Estado.
Democracia em Preto e Branco vem analisar o período final de uma ditadura que durou 21 anos, sob novas perspectivas: o futebol e a música como reflexo desse regime e através de relatos de quem viveu durante a ditadura no Brasil, no processo de transição para o regime democrático. Deste modo, a proposta da obra é fazer um recorte e mostrar como o esporte, a política e a música se encontraram para mudar o rumo da história do país.
O filme revela as consequências da repressão para aqueles que viveram um ambiente de medo, terror, insegurança e violência imposta pelo Estado, e ainda como o futebol brasileiro durante a ditadura militar foi espaço de tensão, de propaganda e de resistência. Assim como aconteceu nas demais áreas de influência da sociedade, os militares centralizaram o poder no esporte.
O regime transformou os formatos de competições nacionais disputadas no Brasil, usou a seleção brasileira como objeto de propaganda e fez da gestão esportiva um espelho do que ocorria no país, com dirigentes se perpetuando no poder.
Neste cenário conturbado, Sócrates, Casagrande e Wladimir têm lugar reservado no imaginário dos torcedores do Corinthians. Na galeria de ídolos do clube paulista, esse trio esteve guardado nos arquivos do Departamento de Ordem e Política Social (Dops). Mas, não eram os únicos.
Assim como acontecia em outros setores da sociedade, atletas eram vigiados de perto pelo regime e tinham suas ações monitoradas pela inteligência, atenta a qualquer ação considerada subversiva. Os jogadores fichados pela ditadura foram líderes do movimento conhecido como '‘Democracia Corintiana''.
O documentário fala sobre a luta do elenco do Corinthians do início dos anos 80, abordando um recorte do contexto político brasileiro da época, onde o povo clamava pelo fim da ditadura militar e exigia eleições diretas.
Assim como o futebol, a música popular sobrevivia tentando “driblar” a censura e a repressão. Neste contexto, o rock brasileiro ressurge em outro formato. Eram músicas de protesto, que expressavam a dor e a angústia de viver em um regime autoritário e se colocavam como porta-vozes de uma juventude que nunca exercera sequer sua cidadania política.
A utilização do futebol e das bandas de rock'n roll como temas de estudo e pesquisa, nas aulas de ciências humanas, pode ser bastante eficaz por aproximar os alunos de um determinado contexto onde estão inseridos e por tratar de fatos históricos e sociais completos, que possibilitam estudar a história de uma sociedade, através de grupos e de comunidades, atuantes nas conjunturas históricas, políticas e econômicas que compõem o tecido social.
No clube mais popular da cidade mais populosa do Brasil, este elenco compôs o que ficou conhecido como a “democracia corintiana". Ali começava um movimento que reivindicava autonomia nas decisões do clube e estabelecia uma horizontalidade do poder, ganhando assim, uma conotação de liberdade ao se criar um ambiente democrático que era único no país, com experiências pioneiras nas relações de trabalho.
O movimento se baseava na ideia de que todas as decisões relacionadas ao futebol deveriam ser votadas antes. Desde presidente até o roupeiro, todos teriam direito a um voto, tendo opiniões com o mesmo valor decisório. Assim, dirigentes, atletas e comissão técnica, em uma autogestão, decidiam juntos o destino do clube; algo que chamava muita atenção da população, em um momento de repressão e de nenhuma representatividade política.
Respaldados pelos resultados dentro de campo, a democracia corintiana foi se fortalecendo cada vez mais, encorajando o time a expandir seus limites e abraçar causas maiores. Discutia-se não somente as decisões dentro do clube, mas também o futuro de um país. Nas costas do uniforme estamparam a frase “dia 15, vote” ,em alusão às eleições diretas para os governadores de estado e às Diretas Já, movimento que borbulhava no país durante este período.
Quebrava-se o paradigma do futebol como o “ópio do povo”, que alienava culturalmente a classe trabalhadora, para promover a conscientização da população como sujeitos atuantes, com potencial de transformação da sociedade.
De acordo com o próprio Sócrates, líder do movimento, a linguagem do futebol é universal e fomenta um fantástico processo educativo, pois nos unifica; sendo entendida por todos, independente do nível de socialização, conhecimento ou escolaridade, proporcionando maior capacidade de mobilização da sociedade em torno de causas, que seriam muito difíceis de serem atingidas e assimiladas, caso não tivessem uma linguagem acessível.
Em uma época em que a palavra precisava ser calada, as fantasias, a música e a poesia da juventude ficaram à deriva, dado o silêncio imposto pelo Estado. Criou-se uma geração com medo de guarda de trânsito. Era o terror instalado. Foi nesse contexto político de violência e opressão que as bandas de rock’n roll se fizeram presentes nas músicas de grupos que expressaram os desejos de movimentos estudantis, de democratizar o país.
Assim, a obra possibilita ao aluno identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Discutir os processos de resistência na música e no futebol e o que esses grupos sociais propunham para a reorganização da sociedade brasileira, durante os anos finais da ditadura civil-militar.
Permite ainda discutir o papel da mobilização da sociedade brasileira do final do período ditatorial e a emergência de questões relacionadas à memória e à justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. E, principalmente, fazer com que os alunos entendam como se deram os processos de resistência com o objetivo de democratizar a sociedade .
PLANO DE AULA
Ditadura Militar
Duração: 2 aulas de 50min
Contexto histórico: O tema deverá ter sido trabalhado previamente com os alunos, nos aspectos políticos, econômicos, sociais e ideológicos, considerando que a ditadura civil-militar feriu direitos e durante décadas perseguiu, matou, torturou, impediu a liberdade do cidadão.
O presente plano de aula tem por objetivo discutir conceitos, movimentos sociais e de grupos específicos no esporte e na música , fundamentado no documentário “Democracia em Preto e Branco” referentes aos anos finais da Ditadura Civil Militar brasileira, tendo por base fontes históricas como: depoimentos, fotografias e fatos contidos no mesmo. Os alunos e alunas deverão analisar a ditadura a partir das décadas de 70 e 80, por meio de relatos de quem viveu durante o regime militar no Brasil e como determinados segmentos da sociedade reagiram à repressão, ao autoritarismo e à censura. Nessa proposta, eles serão orientados a trabalhar e discutir em pequenos grupos, alguns temas desse período e depois compartilhar com o restante da turma as aprendizagens desse debate.
Propostas de atividades pedagógicas com o filme
1. Atividade pedagógica:
Retome com os alunos quais foram as consequências para as gerações futuras pós-ditadura. (2min35s a 7min58s)
Em grupos, os alunos deverão produzir um texto e apresentar para a turma sobre a temática escolhida e contida no filme. Conte que eles vão pesquisar sobre o período escolhido e, em grupos, irão produzir uma apresentação a partir da pesquisa do tema em sites e livros confiáveis. Podem trazer outros materiais como músicas e imagens de documentos de época para enriquecer a apresentação.
- O movimento grevista e a luta pela democracia. (8min15s a 9min32s)
- A luta pela democracia e a crise econômica a partir da década de 70. (22min28s a 26min)
- Sócrates, Wladimir e Casagrande, liderança e representatividade. (14:49 a 22:40)
- Futebol e regime militar, mudanças a partir de 1981. (30min20 a 35min30s)
- Futebol como ferramenta de transformação. (48min a 51min31s)
- Diretas Já. (59min28s a 1h19min)
- A censura. (51min32s a 56min)
- A música de protesto e o rock’n roll como manifestação cultural de oposição ao regime. (25min10s a 30min07s e 44min12s a 48min)
O professor poderá transformar as frases afirmativas em interrogativas.
Na perspectiva da Base Nacional Comum Curricular - BNCC, as competências e habilidades que podem ser favorecidas são:
ENSINO FUNDAMENTAL II
Na Área de Ciências Humanas:
(EF09HI19) Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos.
(EF09HI20) Discutir os processos de resistência e as propostas de reorganização da sociedade brasileira durante a ditadura civil-militar.
(EF09HI22) Discutir o papel da mobilização da sociedade brasileira do final do período ditatorial até a Constituição de 1988.
ENSINO MÉDIO
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas causas, significados e usos políticos, sociais e culturais, avaliando e propondo mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.
(EM13CHS602) Identificar, caracterizar e relacionar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade, do diálogo e da promoção da cidadania.