Plano de Aula

ACÁCIO

Acácio
15/06/2022
Ensino Médio
Linguagens, História, Arte, Ciências Humanas, Língua Portuguesa
Caroline Silveira Bauer
Acesse a ficha do filme



Caro professor, “Acácio” é um documentário de Marília Rocha, lançado em 2008, que narra as vivências dos portugueses Acácio Videira e Maria da Conceição Videira, em Portugal, em Angola e no Brasil. Na África, Acácio Videira trabalhou no Museu Etnográfico da Companhia de Diamantes de Angola (Diamang), realizando um trabalho etnográfico de registro escrito e visual, principalmente do povo chokwe (ou cokwe ou tucokwe ou, ainda, kiôko, em português). Com a eclosão da guerra de independência de Angola (1961-1975) e suas consequências, a família retorna a Portugal em 1975 na condição de “retornados”, mas a animosidade faz com que decidam se mudar para o Brasil.


O documentário reconstitui essa trajetória, utilizando as imagens produzidas por Acácio, ao mesmo tempo em que a diretora realiza um percurso contrário aos personagens: inicia sua narrativa no Brasil, partindo para Angola, onde entrevista Gambôa Muatximbau, que trabalhou junto a Acácio, e, depois, com destino à pequena aldeia em que Acácio vivia.


Neste plano de aula, preparamos algumas possibilidades de uso do documentário para desenvolver competências e habilidades gerais e específicas das áreas de “Ciências Humanas e Sociais Aplicadas” e de “Linguagens e suas Tecnologias”, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio. 


Estas propostas estão em conformidade com a Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino da História e cultura africana e afro-brasileira. Recomendamos a você, professor, utilizar o documentário como forma de trabalhar questões referentes à cultura e história da África e às relações étnico-raciais entre chokwes e portugueses.


As atividades coadunam-se com as seguintes competências:


Competência geral


1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.


Competências específicas – “Linguagens e suas Tecnologias”


1. Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.


2. Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza.


Competências específicas – “Ciências Humanas e Sociais Aplicadas”


1. Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.


2. Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações.


3. Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades com a natureza (produção, distribuição e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à proposição de alternativas que respeitem e promovam a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional, nacional e global.


As habilidades a serem desenvolvidas em cada um desses campos estão designadas nas atividades.


Atividade 1


Habilidade – Linguagens e suas Tecnologias


(EM13LGG202) – Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.


Habilidade – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas


(EM13CHS102) – Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, cooperativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.


Descrição da Atividade 1


Objetivamos que, com esta atividade, você, professor, possa trabalhar com seus alunos o imperialismo e seus aspectos culturais. Para tanto, sugerimos uma atividade conjunta entre as disciplinas de Artes, História e Português. Primeiramente, o professor de história deve trabalhar com a turma alguns aspectos históricos do imperialismo, diferenciando-o do colonialismo e especificando as práticas coloniais e imperiais de Portugal na África.


Após uma aula expositiva-dialogada, sugerimos que alguns trechos do documentário sejam utilizados, principalmente as imagens de arquivo produzidas por Acácio Videira e sua narrativa do trabalho desenvolvido em Angola. Posteriormente, o professor de Português deve trabalhar com os alunos os países africanos em que o Português é um dos idiomas, reconhecendo as variações linguísticas, e, com isso, problematizando duas questões:



  • Por que o Português é um dos idiomas falados nesses países?

  • Que influências de idiomas e dialetos africanos possuímos no Português falado no Brasil? Por que isso ocorre?


O objetivo é que os alunos reconheçam a dimensão cultural do colonialismo e do imperialismo, como a imposição linguística, e compreendam a circulação cultural e as trocas estabelecidas com os africanos escravizados que foram trazidos para a América Portuguesa e para o Império do Brasil. Uma terceira etapa desta atividade é de responsabilidade do professor de Artes: ele deve trabalhar com a turma os chamados “espólios coloniais”, a apropriação de bens culturais e materiais de regiões colonizadas, e a constituição de museus nas metrópoles (para além de seu enriquecimento).


O professor pode partir dos exemplos do povo chokwe, abordado no documentário, mas também expandir para outros exemplos do imperialismo europeu na Ásia, na África ou na América. Desta forma, evidencia-se uma dinâmica das relações étnico-raciais relacionada à hierarquização das sociedades.


Para aprofundar seus conhecimentos nesses assuntos e para ajudá-lo no desenvolvimento desta atividade e adequação a sua realidade escolar, recomendamos a leitura dos seguintes textos:


BEVILACQUA, Juliana Ribeiro da Silva. As esculturas cokwe como respostas às assimetrias civilizacionais. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. 2017, v. 25, n. 2, p. 117-139. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-02672017v25n2d05 Acesso em: 27 abr. 2022.


BALSALOBRE, Sabrina Rodrigues Garcia. Brasil, Moçambique e Angola: desvendando relações sociolinguísticas pelo prisma das formas de tratamento. 2015. 345 p. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara), 2015. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/127872 Acesso em: 27 abr. 2022.


SERRANO, Carlos. Angola: o discurso do colonialismo e a antropologia aplicada. África, [S. l.], n. 14-15, p. 15-36, 1992. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/africa/article/view/96017 Acesso em: 27 abr. 2022.


SILVA, Zoraide Portela. Guerra colonial e independência de Angola: O fim da guerra não é o fim da guerra. Revista TransVersos, [S.l.], v. 7, n. 7, p. 154-184, set. 2016. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/transversos/article/view/25600 Acesso em: 27 abr. 2022.


Atividade 2


Habilidade – Linguagens e suas Tecnologias


(EM13LGG604) – Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção histórica dessas práticas.


Habilidade – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas


(EM13CHS502) – Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.


Descrição da Atividade 2


Esta atividade tem como objetivo analisar as dinâmicas das relações étnico-raciais entre portugueses e chokwe, identificando seus costumes, hábitos, práticas, rituais etc. Para tanto, sugerimos que você, professor, primeiramente promova uma sessão para a exibição de trechos do documentário, principalmente aqueles que registram o cotidiano da família Videira e do povo chokwe.


Solicite aos alunos que, em uma folha de seus cadernos, construam um quadro comparativo com os seguintes tópicos: atividades, casa, comida, pessoas, roupas etc. (você pode sugerir outros aspectos para serem comparados). Peça à turma que, enquanto assiste às imagens, anote aspectos relativos às pessoas brancas e às pessoas negras. Depois da atividade individual, realize um debate com todos os alunos.



  • A que atividade se dedicam as pessoas brancas? E as negras?

  • O que a família Videira come, onde ela vive, como se veste? E as pessoas do povo chokwe?

  • Que rituais é possível identificar?


Depois da discussão, sugerimos que você reforce com os alunos que a comparação não deve possuir um caráter de hierarquização, mas de compreensão da diversidade de experiências e vivências em um mesmo local, em uma mesma época. E que essa diversidade está relacionada a elementos culturais e históricos. Ao mesmo tempo, recomendamos que a atividade tenha o objetivo de positivar os elementos da cultura e da história africanas, desnaturalizando e combatendo a intolerância, a discriminação e os estereótipos.


Para auxiliá-lo na elaboração desta atividade, e compatibilizá-la a sua realidade escolar, sugerimos as seguintes leituras:


MESQUITA, Cláudia. Retratos em diálogo: notas sobre o documentário brasileiro recente. Novos estudos CEBRAP. 2010, n. 86, p. 105-118. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-33002010000100006 Acesso em: 27 abr. 2022.


GOMES, Arilson dos Santos. Africanidades e diversidades no ensino de História: entre saberes e práticas. Educar em Revista. 2017, v. 00, n. 64, p. 189-214. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0104-4060.48996 Acesso em: 27 abr. 2022.


FERNANDES, José Ricardo Oriá. Ensino de história e diversidade cultural: desafios e possibilidades. Cadernos Cedes, v. 25, n. 67, p. 378-388, 2005. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-420593 Acesso em: 27 abr. 2022.


Atividade 3


Habilidade – Linguagens e suas Tecnologias


(EM13LGG602) – Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a aguçar continuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.


Habilidades – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas


(EM13CHS601) – Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.


Descrição da Atividade 3


Esta atividade tem como objetivo trabalhar com a temática da memória e da oralidade na transmissão da cultura e da história. Em diversas partes do documentário, Acácio e Maria Conceição fazem referência à memória: em um primeiro momento, como forma de lamento, afirmando que “os novos não querem ouvir os velhos”; em outro, para falar da importância da oralidade na transmissão da cultura e da História.


Embora não afirme diretamente, esse último aspecto parece ter sido um aprendizado de seu trabalho com o povo chokwe, para quem a oralidade e a transmissão intergeracional possuem uma importância fundamental em sua identidade. A partir desses elementos, sugerimos que você, professor, trabalhe com os alunos a seguinte atividade:


Exiba em aula o documentário, em seguida, inicie com os alunos um debate sobre a memória e o esquecimento, ressaltando que todo o filme foi construído a partir da memória de Acácio e Maria Conceição sobre suas vidas em Portugal, na África e no Brasil. Nesta atividade de construir as memórias dessas experiências, ambos puderam se valer das imagens de arquivo, rememorando acontecimentos, lugares, pessoas etc.


Enfatize com os alunos que há outras dimensões da memória presentes no documentário: a oralidade e a transmissão intergeracional da cultura, da história e de saberes pelo povo chokwe. A partir da importância da narrativa oral para esse povo, sugira os alunos que entrevistem seus familiares ou conhecidos mais velhos e lhes pergunte algum aprendizado que lhes foi transmitido através da oralidade.


Elabore junto aos alunos um questionário para essa entrevista, definindo perguntas importantes para que vocês, juntos, possam avaliar a importância dessa tradição em cada uma das famílias. Para além da pergunta sobre o aprendizado transmitido pela oralidade, formulem questões sobre quem lhes ensinou, se o ensino foi feito através de uma fábula ou de um mito, ou ainda da experiência de alguém etc.


Após os alunos desenvolverem e aplicarem seus questionários, debatam em sala de aula os resultados.



  • Para quais famílias a dimensão da oralidade teve alguma importância?

  • Esses conhecimentos e saberes foram passados adiante?

  • Os alunos transmitirão isso para seus descendentes?


Esta é uma excelente oportunidade para compreender como em algumas culturas e alguns espaços existem algumas figuras de saber (os anciões sábios, o cacique, o líder religioso etc.), que transmitem aspectos da história e da cultura para as novas gerações.


Professor, para aprofundar seus conhecimentos nesses assuntos, e para ajudá-lo no desenvolvimento desta atividade e adequação a sua realidade escolar, recomendamos a leitura dos seguintes textos:


CUNHA, Daniel de Oliveira, DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri. Nacionalistas e colonos do “ultramar” Português e sua presença no Brasil (1960-1975). Revista TOMO, n. 26, jan-jun. 2015, p. 67-96. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/tomo/article/view/4403 Acesso em: 27 abr. 2022.


BARBOSA, Madelyne dos Santos, BARBOSA, Éden dos Santos, VASCONCELOS, José Geraldo. Memória e oralidade, sementes da educação africana plantadas na diáspora. Ensino em Perspectivas, [S. l.], v. 2, n. 4, p. 1–11, 2021. Disponível em: https://www.revistas.uece.br/index.php/ensinoemperspectivas/article/view/6213. Acesso em: 27 abr. 2022.


OLIVEIRA, Julvan Moreira de, FARIAS, Kelly de Lima. “Só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor”: a tradição oral como herança ancestral. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, [S. l.], v. 10, p. 43–64, 2019. Disponível em:  https://periodicos.ufsm.br/voluntas/article/view/39887 Acesso em: 27 abr. 2022.



EM13LGG202 - Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
EM13LGG602 - Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a aguçar continuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.
EM13LGG604 - Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção histórica dessas práticas.
EM13CHS102 - Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, cooperativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
EM13CHS502 - Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
EM13CHS601 - Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.

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